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NOVA IORQUE, 2012
Os lábios dela exigiam ser provados e ele não se importaria nada de verificar se eram tão suculentos quanto pareciam ser. Aproximou a sua cara da dela, sem a desfitar. Hipnotizara-se por aqueles olhos verdes sensuais, neles via fogo que jamais provocara em qualquer outra mulher.
Ela diminuiu a distância, tão perto que os lábios de ambos roçaram. Desejava-a tanto. Não, precisava dela.
E então, quando se preparou para finalmente experimentar o sabor da boca dela, tudo ficou preto e silencioso.
Suado e com o coração a bater depressa, Shannon acordou sem saber muito bem onde estava. Precisou de alguns segundos para acalmar-se e perceber que estava na sua suíte de hotel.
Desorientado, decidiu levantar-se e passar a cara por água. Deu-lhe vontade de tomar um duche completo em água fria, a ver se havia maneira de arrefecer o seu corpo que estava demasiado quente pelo sonho que acabara de ter.
Voltou para o quarto e pegou no maço de tabaco, tirando um cigarro Marlboro.
- Shannon?
Virou-se para a cama e observou a mulher morena que tinha na cama. Annalyne Ford, a sua mais recente namorada. Ou nem isso, acrescentou mentalmente.
-Desculpa ter-te acordado.
- Estás bem?
- Sim, volta a dormir.
Annalyne fez precisamente o contrário e levantou-se, expondo toda a sua nudez agora iluminada pela luz que provinha do candeeiro de rua. Enrolou os braços à volta do pescoço dele.
- Estás tenso. Passa-se alguma coisa?
- Não.
- A sério?
- A sério, Anna. Não é nada com que tenhas de te preocupar.
- Então sempre se passa alguma coisa. Conta-me.
Shannon riu-se para si mesmo. Contar-lhe o quê? Que vinha há dias a sonhar com uma mulher loira, de olhos verdes selvagens e lábios magníficos. Alguém que conhecera fugazmente numa conversa em Nova Iorque. Nem ele estava certo de soar convincente com aquela história, que já o vinha a importunar há várias noites sem o deixar dormir decentemente. Por isso limitou-se a sorrir para distrair Anna e fazê-la voltar para a cama.
- Querido, não vamos dormir novamente, pois não?
Anna olhou-o sedutoramente. Servia-se dos seus atributos para o enrolar uma vez mais. E ele, claro, não se importou. Talvez assim esquecesse por momentos aquela mulher que firmava os seus sonhos.
- Tens dormido recentemente?
Shannon quase revirou os olhos. Ao invés preferiu concentrar a sua atenção no café de que se servia. Oh sim, como um bom café podia atenuar o seu estado de espirito e livrá-lo da maldita dor de cabeça. Tinha falta de horas de sono e pelos vistos era notório.
- Tenho tentado. – Acabou por responder, bebericando a cafeína.
- Vais precisar de muita maquilhagem para esconder esses sulcos negros que aí tens. A Anna não te deixa dormir, é?
- Não me chateeis a cabeça, Jamie.
O problema não era Anna, mas sim outra mulher da qual nem sequer sabia o nome. Era absurdo e no entanto dava por si a sonhar com ela todas as noites e dia o rosto bonito dela permanecia na sua mente, sempre relembrando-o da forma de como a desejava. Não havia maior tolice nem nunca antes lhe acontecera algo do género. Supunha que dentro de dias lhe passaria. Sobretudo porque nunca mais veria esta mulher.
- Alguém acordou de bom humor. – Ironizou Tomo, juntando-se à conversa – O café não está a fazer efeito, Shannon? – Os outros dois riram-se, embora Shannon não tenha achado piada nenhuma.
- Tiraram o dia para me lixar o juízo? Está a resultar até agora por isso calem-se.
Tomo e Jamie continuaram a rir-se. Gostavam sempre de implicar com Shannon e faziam-no imensas vezes. Era algo que se tornava hábito quando passavam vidas juntos fosse em concertos entrevistas ou viagens de avião, como era o caso.
Entretanto, o baterista da banda só queria que a viagem acabasse e chegassem a Nova Iorque o quanto antes.
- Shannon!
Jared, o irmão mais novo de Shannon e também vocalista da banda que ambos tinham criado, esperava-o no lobby do hotel. Como era usual de Jared, vinha apenas com umas calças de fato treino vestidas e uma camisola que parecia ter sido escolhida ao acaso. Tinha a barba por fazer e o cabelo ar de precisar ser escovado com mais atenção. Mesmo assim, com um ar desleixado, Shannon sabia que o irmão fazia muitas mulheres suspirar.
Ao aproximar-se do irmão, Jared reparou no olhar dele. Estava cansado e vítreo.
- Tens bebido café?
- Mas isso é pergunta? – Toda a gente sabia o quanto Shannon dependia de café e tinha uma ligeira obsessão por ele. – Não me digas que até tu te apercebes.
- É só que… bom, é melhor veres-te ao espelho – Riu-se – E talvez dormires um pouco ajudará. Cancelamos o jantar desta noite.
Shannon abanou a cabeça. Apesar de o seu humor ter melhorado um pouco, continuava algo irritado. E nervoso (algo que não admitiria, nem para si próprio). Estar novamente em Nova Iorque, onde apenas há duas semanas conhecera aquela mulher, fazia-o duvidar que voltasse a ter boas horas de sono.
- O jantar continua de pé. Mas entretanto vou se durmo alguma coisa.
- Tu é que sabes. Aqui, às nove?
O mais velho assentiu – Cá estarei.
Era tão do Jared combinar jantares tardios. Quando por fim se viram no restaurante já eram nove e meia. O Ambrose, conceituado restaurante italiano, ficava em Manhattan e ali encontraram-se com várias caras conhecidas, na sua maioria figuras públicas.
Shannon já estava de melhor humor. Conseguira dormir algumas horas durante a tarde e depois deslocara-se até ao estúdio da sede da editora e aproveitara para tocar na sua bateria durante aquilo que pareceram horas. Pelo meio bebera café e assim acontecia o miraculoso remédio para curar o male do mau humor.
- Shannon, a Ashley estava aqui a contar-me que há uma festa VIP esta noite no Plaza. O que te parece? Estás a precisar de uma noite de diversão.
- As minhas noites têm muita diversão, sim? – Retorquiu, rindo-se. A ideia de uma festa parecia-lhe bem. – Vamos lá.
Não demorou muito até estarem no Plaza. As câmaras estavam direccionadas para os irmãos Leto assim que entraram. Os dois preferiram não se demorar muito ali e irem direitos ao centro do club. Mais rostos conhecidos, pessoas a quem dizer olá durante a curta visita que faziam em Nova Iorque. Estavam ali para uma entrevista e para participarem numa gala de beneficência, no dia seguinte. Depois zarpavam para a Europa e davam continuação à tour.
- Shannon! – Uma antiga amiga sua, Kelsey, aproximou-se a abraçou-o – Não sabia que estavas em Nova Iorque. Que bom ver-te!
- Olá Kelsey – Sorriu – Cheguei hoje, mas estive cá há pouco tempo. Não nos cruzámos?
- Não. Ficámos de nos ver no Friday’s mas não nos encontrámos, lembras-te? Eu tive aquele problema com a fuga de informação na agência e bom…
Kelsey McDough era jornalista em Nova Iorque, mais precisamente numa coluna cor-de-rosa. Tinham-se conhecido numa entrevista, há uns cinco anos atrás, e ficado amigos. Apesar de Shannon não ser informador de novas coscuvilhices, por opção própria, Kelsey via-o como amigo a manter. E, afinal de contas, ele era sempre uma boa companhia.
Já a menção ao Friday’s fês o baterista recordar-se dessa tarde. Agora lembrava-se, fora à porta do Friday’s que a vira, aquela mulher.
- Shannon, passa-se algo?
O sentido jornalístico de Kelsey não ficou indiferente àquilo que viu no olhar do amigo.
- Não, nada. Porque perguntas?
- Ficaste estranho.
Algo definitivamente se passava com ele para todas as pessoas notarem algo. O mau humor quase apareceu de novo. Shannon afastou-o e sorriu para Kelsey.
- Estás a imaginar coisas. Vamos, deixa-me pagar-te um copo.
A noite ia longa e preenchida. Os irmãos Leto sabiam como se divertirem e junto de amigos descontraíram-se na festa do Plaza. Se uma dor de cabeça não o importunasse, às duas da manhã Shannon não teria ido embora.
(Duas da manhã é demasiado cedo para sair de uma festa).
Despediu-se dos amigos e disse a Jared que se encontravam pela manhã para tomar pequeno-almoço juntos. Depois saiu e pegou no carro, já que não estava assim tão alcoolizado.
Sem se aperceber, guiava pelas ruas erradas de Nova Iorque. Seguia para Este quando o hotel ficava no Sul da cidade que nunca dorme. Até passar num quarteirão de bares, Shannon não se apercebera que estava, na verdade, a dirigir-se para o Friday’s. O pub ficava mesmo na esquina e ali costumava ir sempre que vinha a Nova Iorque. Tinham boa cerveja, era isso.
Só que desta vez não era cerveja que ele procurava encontrar ali.
Parou o carro na beira do passeio. As luzes néon ainda piscavam, ainda que o bar tivesse acabado de fechar. O homem saiu do carro e apertou o casaco contra si perante a brisa fria.
«Estava à espera do quê? Encontrá-la? Cresce e aparece, Leto.»
Rindo-se de si próprio, deu meia volta e voltou para o carro. Que isto servisse para pôr fim à sua fantasia nocturna da mulher que conhecera ali.
Ligou o rádio e voltou à estrada. A colectânea de Neil Peart preenchia o carro e Shannon viu-se a tocar a bateria da mesma forma que o mítico baterista fazia. De vez em quando olhava para as ruas de Nova Iorque, uma cidade que desde sempre o fascinara. Então parou abruptamente.
Para primeiro capitulo, o que é que acham?
O próximo vem no sábado, não se esqueçam.
Comentem ou favoritem, é muito importante para mim saber que leram (: